Crítica | Vidas Passadas

Longa arrebatador de Celine Song é estreia da diretora

12/03/2024 17:39 / Por: Laylton Corpes / Fotos: Divulgação
Crítica | Vidas Passadas

Poucas estreias na direção de um longa são tão arrebatadoras quanto a de Vidas Passadas, da coreana-canadense Celine Song, indicado ao Oscar de Melhor Filme e Melhor Roteiro Original. Um filme puramente singelo e que diz tanto até mesmo em seu título, pode ser considerado como uma obra atemporal sobre o que há de mais sentimental e melancólico no existir humano.


Em Vidas Passadas, Nora Lee (Greta Lee) e Hae Sung (Teo Yoo) são amigos de infância, e ela acredita que irá se casar com ele um dia. Tudo muda quando Nora se muda do país, longe de sua cultura e de seu idioma, e as circustâncias do destino os separam. Vinte anos depois, ela é uma mulher casada com Arthur (John Magaro), e o reencontro entre os dois acontece.


Em Vidas Passadas, o não dito vale muito mais do que as palavras. (Reprodução)

É importante deixar claro o quanto o trabalho de Celine Song tornou Vidas Passadas um filme muito além do que se espera sobre um romance de “encontros e desencontros”, comum em Hollywood. A sutileza presente na direção de câmera, diálogos e um trabalho excepcional no triângulo de atores torna tudo encapsulado, quase que como um convite a conhecer o mundo e os sentimentos de cada personagem.


Há em especial uma cena da qual eu gosto de destacar: Nora e Hae Sung se reencontram em um parque em Nova York, ambos com distintas expressões. Nora está sorridente e confiante, e Hae Sung está tímido, inseguro e ansioso. E há uma cena em que ambos os personagens estão na mesma posição e plano de câmera, porém crianças. Essa sobreposição de paralelos é marcante durante todo o filme, tecendo a união entre passado e presente na trama.


Celine também tece um comentário sobre o apagamento cultural presente entre imigrantes de outros países ao viver nos Estados Unidos, por exemplo. Há de se apagar um pouco de si para viver em um lugar que não lhe pertence, mas é impossível remover memórias e a sua essência, mesmo longe de casa. É por isso que Vidas Passadas é um longa que também fala sobre saudade, mesmo que de forma sutil.


Existe algo muito belo na maneira da qual a maturidade é explorada aqui. Não existem mocinhos e vilões na trama, nem decisões radicalmente transformadoras que transformam a vida dos personagens para sempre. Pelo contrário, Vidas Passadas convida o expectador a esquecer as convenções presentes e presenciar um acerto de contas com a própria história.

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